Normalmente,
um professor universitário aprende a ser docente mediante a sua experiência em
sala de aula, entretanto, esta afirmação soa como um equívoco. Para ser
professor é necessário tanto o domínio dos conhecimentos específicos como o de
métodos pedagógicos que, uma vez adotados, poderão transformar o ensino
superior e contribuir para uma mudança de realidade no mundo contemporâneo;
desse modo, a sua orientação poderá resultar em uma melhor aprendizagem – tanto
do discente como do docente.
Durante
muito tempo, os docentes universitários exerciam esta função apenas como um
complemento e já que atuavam bem em suas determinadas profissões, eram levados
à docência superior – isto colocava em evidência a noção de que ser um bom
profissional em sua área, o faria – automaticamente – um professor capaz de
cumprir às exigências da academia.
Contudo,
essa ideia necessita ser superada: o ato de ensinar não deve colocar o
professor como o centro; ensinar não é sinônimo de transmissão de conhecimento
e o aluno não é um sujeito passivo, disposto apenas a receber informações e,
mecanicamente, memorizá-las. Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia, faz uma
crítica ao modo como a forma conservadora de ensinar atua – ele menciona que o
ensino mecanicista, cujo professor – visto como um ser superior na sala de aula
– dá o conteúdo de sua disciplina e não a relaciona com a realidade – tem o
poder de adestrar os alunos para que aceitem os efeitos perversos do mundo
globalizado, sendo ensinados, dessa forma, a aceitarem que o mundo é feito por
determinações e não por possibilidades. E esta não pode ser a visão da
academia.
O
professor universitário deve estar envolvido em atividades de pesquisa e
extensão e, através do ensino, orientar o processo de aprendizagem, de modo a
levar o aluno a uma contextualização de sua realidade. Conforme Freire (1996) para
haver um ensino de qualidade, é indispensável que o professor seja um
pesquisador e influencie o seu aluno para o mesmo, pois pesquisar é uma forma
de conhecer o que já existe e não é conhecido pelo pesquisador.
O
docente constrói uma identidade própria por meio da sua história; da sua
formação – tanto inicial como continuada e; através da sua prática. É nesse
sentido que o ensino, a pesquisa e a extensão aparecem – como uma forma de
construir – também – a identidade do ser docente.
Este
ser docente tem, portanto, a responsabilidade – por meio dos seus estudos – de
promover melhorias para a comunidade e, dessa forma, inserir o aluno nessas
atividades, instigando uma aprendizagem contextualizada e atuando
profissionalmente com responsabilidade social. O educador deve, portanto, ser
flexível e aceitar novas ideias e informações como forma de expandir o seu
leque de conhecimento e contribuir para a formação de uma sociedade mais justa
e consciente.
Paulo
Freire (1996) enfatiza que todas as pessoas, até mesmo o cientista mais
renomado, sempre têm algo novo a aprender, do mesmo modo que, até a pessoa mais
humilde, sempre terá algo a ensinar; com isso, é fundamental que todas as
pessoas se aceitem como seres inacabados, pois apenas assim, estarão dispostas
a sempre buscarem novos conhecimentos. E a busca por novos conhecimentos deve
ser o principal objetivo do professor universitário.
Referências
FARIAS, Isabel M. et al. Didática e docência: aprendendo a
profissão. Brasília: Liber, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia
da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 1996.
MASETTO, Marcos T. Professor universitário: um profissional
da educação na atividade docente. In: MASETTO, Marcos T.
(org). Docência na universidade. Campina: Papirus, 1998.
PIMENTA, Selma G. A profissão professor universitário:
processo de construção da identidade. In: CUNHA, M. I. Docência universitária:
profissionalização e práticas educativas. Feira de Santana: UEFS Editora,
2009.
RAMOS, Katia M. Reconfigurar a personalidade docente
universitária: um olhar sobre ações de atualização pedagógico-didática. Porto:
Universidade do Porto, 2010.
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